Não que tudo deva ser resolvido
com Cicatricure (creme para suavizar marcas naturais da idade - eu e minhas
propagandas gratuitas). No entanto, um molho de humanos seria capaz de investir
na indústria cosmética a fim de apagar, nem que fossem superficialmente, as
marcas das nossas feridas. Mas preciso concordar: Seria uma! Seriam bem menos grossas
as couraças. Máscaras?
Reflexo daquilo que um dia nos
tomou, acertou em cheio, nos fez sangrar ou arrancou uma parte (boa ou ruim) de
nós, ninguém é obrigado a praticar a compreensão. Não é inteligente sair por ai
condicionando aos outros o posto de ouvinte e/ou consolador. É melhor mastigar as
dores logo no café da manhã. Custa menos que receber uma homília de quem te diz
amar, já que é pouco provável que tenhamos uma lista farta de candidatos que
tomem para si essa tarefa.
Se fazer plateia dos nossos
amores quando eles tem razão e nós não temos um palmo de chão é quase afogarmo-nos
num pântano. Você precisa ficar parado
(que nem as águas), ser capaz de administrar diante do orador todas as próprias
falas (a vegetação em decomposição) e entender que existe um nível de rasura a
ser respeitado (pouca profundidade). Não que eu tenha aderido por toda uma vida
a esse pensamento. Na-ni-não! Ocorre que quando se está diante de alguém que nos
faz sermos melhores é preciso colocar o orgulho num saco plástico de mercado,
amarrar as pontas e em seguida esquece-lo por baixo da pia da cozinha.
Leva um tempo para se absorver o
que de fato foi dito, eu sei. Quem carrega dores, carrega pulsos com cicatrizes
avermelhadas, ainda em processo de recuperação. E entre uma olhadela para as
feias marcas e a face de quem nos mira com palavras sabias: a resistência, o
formigar dos pontos, o tremelicar dos nervos, o assalto. Morremos entre nossas
defesas/justificativas. Minguaremos. O dia virará noite e a lua se perderá dessa
mesma noite. Como se o trivial nos cumprimentasse de frente e em forma de
lampejo, o absurdo fosse cabível e o insano tomasse conta da situação. Somos
apresentados à facilidade de, num drible, esquecer as tragédias e enamorar de maneira encantadora um outro sonho. Aí caímos para o abraço. Firmamos um acordo
conosco. Deixamos o banco do passageiro para reassumir a direção, tornamos a
visualizar e conduzir rotas mais possíveis. Parece até que tudo é apenas uma
questão de crença. Corrijo-me: Crença x Tempo.
Uma belíssima partida hein? Uma
batalha interna que requer determinação e o cantarolar daquela música... ‘Eu
tenho habilidade de fazer histórias tristes virarem melodia... Eu vi o tempo passar... Eu tenho sido forte,
é incrível minha sorte, agradeço o tempo todo por ter encontrado você. ’
(Charlie Brown Jr.).
*Impossível recolher o lado B
que me consome :P