Cicatrizes

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Não que tudo deva ser resolvido com Cicatricure (creme para suavizar marcas naturais da idade - eu e minhas propagandas gratuitas). No entanto, um molho de humanos seria capaz de investir na indústria cosmética a fim de apagar, nem que fossem superficialmente, as marcas das nossas feridas. Mas preciso concordar: Seria uma! Seriam bem menos grossas as couraças. Máscaras?

Reflexo daquilo que um dia nos tomou, acertou em cheio, nos fez sangrar ou arrancou uma parte (boa ou ruim) de nós, ninguém é obrigado a praticar a compreensão. Não é inteligente sair por ai condicionando aos outros o posto de ouvinte e/ou consolador. É melhor mastigar as dores logo no café da manhã. Custa menos que receber uma homília de quem te diz amar, já que é pouco provável que tenhamos uma lista farta de candidatos que tomem para si essa tarefa.

Se fazer plateia dos nossos amores quando eles tem razão e nós não temos um palmo de chão é quase afogarmo-nos num pântano.  Você precisa ficar parado (que nem as águas), ser capaz de administrar diante do orador todas as próprias falas (a vegetação em decomposição) e entender que existe um nível de rasura a ser respeitado (pouca profundidade). Não que eu tenha aderido por toda uma vida a esse pensamento. Na-ni-não! Ocorre que quando se está diante de alguém que nos faz sermos melhores é preciso colocar o orgulho num saco plástico de mercado, amarrar as pontas e em seguida esquece-lo por baixo da pia da cozinha.

Leva um tempo para se absorver o que de fato foi dito, eu sei. Quem carrega dores, carrega pulsos com cicatrizes avermelhadas, ainda em processo de recuperação. E entre uma olhadela para as feias marcas e a face de quem nos mira com palavras sabias: a resistência, o formigar dos pontos, o tremelicar dos nervos, o assalto. Morremos entre nossas defesas/justificativas. Minguaremos. O dia virará noite e a lua se perderá dessa mesma noite. Como se o trivial nos cumprimentasse de frente e em forma de lampejo, o absurdo fosse cabível e o insano tomasse conta da situação. Somos apresentados à facilidade de, num drible, esquecer as tragédias e enamorar de maneira encantadora um outro sonho. Aí caímos para o abraço. Firmamos um acordo conosco. Deixamos o banco do passageiro para reassumir a direção, tornamos a visualizar e conduzir rotas mais possíveis. Parece até que tudo é apenas uma questão de crença. Corrijo-me: Crença x Tempo.

Uma belíssima partida hein? Uma batalha interna que requer determinação e o cantarolar daquela música... ‘Eu tenho habilidade de fazer histórias tristes virarem melodia...  Eu vi o tempo passar... Eu tenho sido forte, é incrível minha sorte, agradeço o tempo todo por ter encontrado você. ’ (Charlie Brown Jr.).

*Impossível recolher o lado B que me consome :P

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